8 de agosto de 2006

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BOCA & PLÁGIO

Barangueiro
(até) de idéias:
não fale perto
senão eu cato.



ESPERA SEMAFÓRICA

O que poderia ter sido:
– Eu não pedi pra nascer
– Isso é com a sua mãe,
...por mim ela tirava
Mas o atraso era falso.



O CACTO

São mesquinhos os cactos.
Aptos ante o inóspito,
optam o fluxo (não ínfimo)
reter no oco. Aptos, mas
míseros são os cactos
– com espinho abstêm-se os céticos.

Cético: ser como o cacto:
signo ereto de acúleos.
Ressentir do silêncio
das folhas, conformar-se
à demência dos galhos.
Ser convicto sem fruto.



MERIDIONAIS

A cartografia do seu corpo,
em que debruço e em que me perco,
tem os traços de uma obra cubista:
os seus pés – chucros – são gaúchos,
de uma nudez que antecipa a sua própria;
o joelho afobado é catarina;
do Paraná vêm as suas coxas
– generosas, roceiras, coloniais;
incansável o seu sexo paulista,
que freqüento com um quê de profissão;
a bunda, essa é carioca, e opostas
ao planalto central de sua barriga
as costas pantaneiras,
em que me inundo, turista. Mas
(como bom sulista) pouco sei do seu norte,
além dos seios inquietos,
quase nada mineiros.



DA ARTE DE AMAR

a noite – virá-la
o álcool – virá-lo
a vida – virar-se
você – revirar-te


Poemas retirados de Medianeira, Edições Quinze & Trinta, 2005.

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