31 de maio de 2007

L’Hotel París - Vicent Andrés Estellès

Um poema do valenciano Vicent Andrés Estellès (1924-1993), do livro L’Hotel París, 1973

XV

Pode alguém ter morrido no leito em que me deito,
talvez estes lençóis já tenham envolvido,
por um momento, um morto, um pobre morto incógnito,
enquanto decidia o juiz sobre seu corpo;
talvez tenha morrido alguém que vinha ver
um assunto, umas coisas: morreu alguém, sem dúvida,
no leito em que me deito, uma noite qualquer,
longe de sua casa, de seu povo, dos seus,
do curral e gerânios, da esposa, de seus pais.
Algum adolescente dedicou a Onan,
de joelhos sobre a cama, seu cântico febril.
Alguém não se deitou, andando pelo quarto
preocupado, fumando, desperto a noite toda.
Pode, uma noite, ter parido uma mulher,
chorado uma criança, gemido alguma virgem,
ter-se perpetrado isso que chamam adultério.
Pode ter, nesta cama, morrido uma criança.

Trad. Fábio Aristimunho


O original:

XV

Potser ha mort algú en el llit on em gite,
potser aquests llençols varen embolcallar,
de moment, algun mort, un pobre mort incògnit,
mentre se n’feia càrrec el Jutjat del seu cos;
potser ha mort algú que venia a resoldre
un assumpte, unes coses: algú ha mort, sense dubte,
en el llit on em gite, una nit qualsevulla,
lluny de la seua casa, del seu poble, dels seus,
del corral i els geranis, de l’esposa, dels pares.
Algun adolescent ha dedicat a Onan,
de genolls en el llit, el seu càntic febril.
Algú no s’ha gitat, passetjant per l’estança
preocupat, fumant, despert tota la nit.
Potser, alguna nit, ha parit una dona,
ha plorat un infant, ha cridat una verge,
s’ha perpetrat allò que en diuen adulteri.
Potser, en aquest llit, va morir un infant.

Vicent Andrés Estellès


25 de maio de 2007

Charada do filho pródigo

Um pai muito generoso com seu filho recebe dele o seguinte bilhete:

..........SEND +
.........MORE
....._________
.......MONEY

O pobre senhor fica em dúvida a respeito da mensagem e não sabe de quanto o filho precisa.

Após pensar um pouco, ele descobre o valor e resolve mandar para o filho o seguinte bilhete:


.....FATHER - MONEY = GO WORK!

Quanto o filho pediu ao pai?

Responda nos comentários; só há uma resposta correta. O gabarito sairá oportunamente.

24 de maio de 2007

Laçamento infantil: "O sapo apaixonado"



Donizete Galvão é poeta e jornalista mineiro radicado em São Paulo. Publicou os livros Azul navalha (1988), que lhe valeu o prêmio APCA de autor revelação, As faces do rio (1991), Do silêncio da pedra (1996), A carne e o tempo (1997), Ruminações (2000) e Mundo mudo (2003). Agora faz sua estréia na literatura infantil, com o livro O sapo apaixonado.

Tomo a liberdade de transcrever o simpático convite do autor:

"Caros amigos: fui inventar de escrever livro infantil e agora faço parte do MSP - Movimento dos Sem Público. As 'crianças' dos meus a amigos estão com mais de 20 anos. Venham comprar para priminhos, sobrinhos, afilhados e filhos de amigos. Ou, então, apenas fazer uma presença VIP e tomar um pouco de vinho. Pelo menos a gente conversa e ali perto tem um atrativo, o árabe Halim, com seu delicioso almoço."

22 de maio de 2007

Poema - Sor Juana Inés de la Cruz

Tradução de um poema moralista de Sor Juana Inés de la Cruz (Juana de Asbaje y Ramírez), poeta e freira mexicana (1648?-1695).


Homens néscios

..........Argúi ser inconseqüência o gosto e
..........a censura dos homens, que às mulheres
..........acusam do que eles causam



..Homens néscios a acusar
às mulheres sem razão,
sem ver que são a ocasião
do que as estão a culpar.

..Se com ânsia sem igual
estimulam seu desdém,
por que querem que obrem bem
se as incitam para o mal?

..Combatem sua resistência,
e em seguida com maldade
dizem que foi leviandade
o que fez sua insistência.

..Querem com vil presunção
achar a que lhes condiz:
em compromisso, Taís,
e Lucrécia em possessão.

..Que humor pode ser mais raro
que o que recusa um conselho?
O mesmo que encobre o espelho
diz que não lhe está bem claro.

..Com o favor ou o desdém
o resultado é igual:
se queixam, se os tratam mal;
enganam, se os querem bem.

..Opinião nenhuma ganha,
pois a que mais se recata,
se não lhes aceita, é ingrata,
e, se aceita, é piranha.

..Sempre tão tolos a andar
com seu discurso fiel,
a uma a chamar de cruel
e a outra de fácil chamar.

..Como talvez se interesse
a que seu amor pretende,
se à que é ingrata ofende
e à que é fácil aborrece?

..Mas entre o aborrecimento
e a pena, de seu deleite,
também há quem os rejeite
e que os deixe em bom momento.

..Às amantes que mantêm
lhes dão asas sem domá-las,
e após mal acostumá-las
querem encontrá-las bem.

..Maior culpa terá havido,
em uma paixão errada,
aquela que cai prostrada
ou o que se prostra caído?

..Qual é mais de se culpar,
ainda que ambos seu mal tragam:
a que peca porque pagam
ou o que paga por pecar?

..Então para que espantar-se
pela culpa que não têm?
Queiram a que lhes convém
ou convenham para amar-se.

..Parem de tanto insistir
e depois com mais razão
à atitude acusarão
da que então os seduzir.

..Com muitas armas ao fundo
luta sua prepotência,
pois em promessa e insistência
juntam diabo, carne e mundo.

(Trad. Fábio Aristimunho)


O original:

Hombres necios

..........Arguye de inconsecuencia el gusto y
..........la censura de los hombres, que en las
..........mujeres acusan lo que causan



..Hombres necios que acusáis
a la mujer sin razón,
sin ver que sois la ocasión
de lo mismo que culpáis.

..Si con ansia sin igual
solicitáis su desdén,
¿por qué queréis que obren bien
si las incitáis al mal?

..Combatís su resistencia,
y luego con gravedad
decís que fue liviandad
lo que hizo la diligencia.

..Queréis con presunción necia
hallar a la que buscáis,
para pretendida, Tais,
y en la posesión, Lucrecia.

..¿Qué humor puede ser más raro
que el que falta de consejo,
él mismo empaña el espejo
y siente que no esté claro?

..Con el favor y el desdén
tenéis condición igual,
quejándoos, si os tratan mal,
burlándoos, si os quieren bien.

..Opinión ninguna gana,
pues la que más se recata,
si no os admite, es ingrata
y si os admite, es liviana.

..Siempre tan necios andáis
que con desigual nivel
a una culpáis por cruel
y a otra por fácil culpáis.

..¿Pues cómo ha de estar templada
la que vuestro amor pretende,
si la que es ingrata ofende
y la que es fácil enfada?

..Mas entre el enfado y pena
que vuestro gusto refiere,
bien haya la que no os quiere
y quejaos enhorabuena.

..Dan vuestras amantes penas
a sus libertades alas,
y después de hacerlas malas
las queréis hallar muy buenas.

..¿Cuál mayor culpa ha tenido
en una pasión errada,
la que cae de rogada
o el que ruega de caído?

..¿O cuál es más de culpar,
aunque cualquiera mal haga:
la que peca por la paga
o el que paga por pecar?

..Pues ¿para qué os espantáis
de la culpa que tenéis?
Queredlas cual las hacéis
o hacedlas cual las buscáis.

..Dejad de solicitar
y después con más razón
acusaréis la afición
de la que os fuere a rogar.

..Bien con muchas armas fundo
que lidia vuestra arrogancia,
pues en promesa e instancia
juntáis diablo, carne y mundo.

(Sor Juana Inés de la Cruz)


21 de maio de 2007

Aniversário da Marossi

O medianeiro pede licença para de vez em quando dar uma de colunista social do pequeno mundo literário. Nesta semana apresentamos o aniversário da Carol Marossi, que foi no sábado último, no Geni.

a aniversariante

os presentes

o bolinho

a vela

confabulando

pegando o batatão

molhando o batatão

mordendo o batatão

os quatis

18 de maio de 2007

Blogue da FLAP

Já está no ar o blogue da FLAP 2007:

http://flap2007.zip.net/

No blogue os organizadores da FLAP escreverão diariamente até a data do evento, seguindo esta escala:

- segunda: Andréa Catropa
- terça: Ana Rüsche
- quarta: Victor del Franco
- quinta: Fábio Aristimunho
- sexta: Ivan Antunes
- sábado: Gus Assano
- domingo: Thiago Ponce

Acompanhe a programação da FLAP e a cena literária!

16 de maio de 2007

Vem aí: FLAP 2007


FLAP 2007: CONTAMINAÇÕES
Blog
: http://flap2007.zip.net
Contato: flap@projetoidentidade.org

Dias 30 de junho e 1º de julho de 2007
Espaço dos Satyros I
Pça. Roosevelt, nº 214 - São Paulo

Realização
Projeto Identidade

Apoio
O Casulo
Os Satyros
Sebo do Bac


PROGRAMAÇÃO
sujeita a modificações

Sábado, dia 30 de junho

[1] 10h às 11:30h - Abre-alas: Contaminações
Mediação: Andréa Catropa, poeta
- Antonio Vicente Pietroforte, escritor e Prof. Dr. Depto. Lingüística, FFLCH-USP
- Glauco Mattoso, poeta
- Anselmo Luis, o Bactéria
- Marcelino Freire, escritor

[2] 13h às 14:30h - Turma do Fundão: A Literatura na Sala de Aula
Mediação: Ivan Antunes, poeta
- Maria Elisa Cevasco, Profa. Dr. Depto. Letras Modernas, FFLCH-USP
- Maria Nilda Mota de Almeida, Dinha, escritora e educadora
- Representante da APOESP (a confirmar)
- Adilson Miguel, editor de literatura juvenil

[3] 14:30h às 17h - E quem vive disso?
Mediação: Ana Paula Ferraz, jornalista e escritora
- Jorge de Almeida, Prof. Dr. Teoria Literária, FFLCH-USP (a confirmar)
- Santiago Nazarian, escritor
- Maria Luíza Mendes Furia, poeta (a confirmar)
- Andrea Del Fuego, escritora

Domingo, dia 1º de julho

[4] 12h às 13:30h - O Além Livro
Mediação: Del Candeias, poeta
- Alberto Guzik, crítico, escritor e dramaturgo
- Lourenço Mutarelli, escritor e cartunista
- Mario Bortolotto, escritor e dramaturgo (a confirmar)
- Eduardo Rodrigues, escritor e cartunista

[5] 14:30h às 16h - Influenza: Soy loco por ti America
Mediação: Vanderley Mendonça, editora Amauta
- Horacio Costa, poeta e Prof. Dr. Depto. Letras Clássicas
- Marcelo Barbão, editora Amauta
- Alfredo Fréssia, poeta e tradutor
- Joca Terron, escritor
- Angélica Freitas, poeta (a confirmar)

14 de maio de 2007

Agora cabelos negros - Rosalía de Castro

Um poema da poeta galega Rosalía de Castro (1837-1885):


Agora cabelos negros,
Mais tarde cabelos brancos;
Agora dentes de prata,
Amanhã dentes quebrados;
Hoje bochechas rosadas,
Amanhã corpo enrugado.
Morte negra, morte negra,
Cura de dores e enganos:
Por que não as matas jovens
Antes que as matem os anos?

(trad. Fábio Artistimunho)

*

Agora cabelos negros,
Máis tarde cabelos brancos;
Agora dentes de prata,
Mañán chavellos querbados;
Hoxe fazulas de rosas,
Mañán de coiro enrugado.
Morte negra, morte negra,
Cura de dóres i engaños:
¿Por qué non matalas mozas
Antes que as maten os anos?

(Rosalía de Castro, in Follas novas, 1880)

11 de maio de 2007

Poesia - Gabriel Aresti

Um poema do basco Gabriel Aresti (1933-1975), autor já freqüentado por este blogue.


POESIA

Dirão
que isto
não é
poesia,
mas
lhes direi
que poesia
é um
martelo.

(Trad. Fábio Aristimunho)

*

POESIA

Esanen dute
hau
poesia
eztela,
baina nik
esanen diet
poesia
mailu bat
dela.

(Gabriel Aresti, 1963)

7 de maio de 2007

Visita ao bordel - Pere Quart

Tradução de um poema do catalão Pere Quart, pseudônimo do poeta Joan Oliver (1899-1986). O próprio poema se apresenta como uma tradução, mas é na verdade, conforme pesquisamos, de autoria do poeta. O aviso final é parte integrante do poema e tudo indica que o autor mencionado na epígrafe, Färs Tabrïz, seja fictício. Esse jogo de espelhos e máscaras certamente visava proporcionar ao seu autor, Joan Oliver, que está por trás de Pere Quart, que por sua vez está por trás de Färs Tabrïz, que estão todos aqui desmascarados na tradução de Fábio Aristimunho, uma maior liberdade de criação dentro de uma temática que beira o grotesco.

Visita ao bordel

........Do poeta iraniano de expressão francesa Färs Tabrïz (1914-1975)

O alcoviteiro mostra-me as pupilas
- este hotel, na verdade, é um bordel -,
que, qual soldados, formam duas filas.

- São feias e, pior, sujas - indulta-as
o homem. - Mas lhe garanto, e é o que importa,
que todas são filhas de puta e putas!

Então entramos num dos aposentos
e estranho tenha sido ele invadido
por escadas, tabuões e escoramentos.

- Os meus clientes - diz o proxeneta -
gostam de fornicar dependurados
neste andaime de obra -, ele alcagüeta.

E eu digo: - Tudo é gosto, tudo é gosto,
mas deve haver o risco da tontura.
Há gostos que dão margem ao desgosto!

- Sexo tem, como tudo, as suas modas
- declara o cafetão, dissimulado -,
mas meu negócio corre sobre rodas.

Então me ocorre, sem muita porfia,
perguntar sobre um ponto especial:
- A toalete, em vaso ou em bacia?

- Traste, então é isso! - urra o cafajeste.
- Você é só um inspetor de merda
que vem tomar o tempo que me reste!

Como fiz outras vezes noutras bases,
com gesto calmo e cabisbaixo, calo-me
e solto, em vez de gritos, certos gases.

. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .

(Aqui abandonei a versão, paralizado e fastidiado pelos crescentes excessos escatológicos do original.)

Trad. Fábio Aristimunho


O original:

Visita al bordell

........Del poeta iranià d'expressió francesa Färs Tabrïz (1914-1975)

L´alcavot em presenta les pupil.les
-aquest hostal, de fet, és un bordell-,
que formen, com soldats, en dues files.

I l´home em diu: -Són lletges i, a més, brutes,
però us puc garantir, i és el que val,
que totes són filles de puta i putes!

Llavors entrem en una de les sales
i veig que és envaïda estranyament
per tot de cavallets, taulons i escales.

-Als meus clients -m´explica el proxeneta-
els plau de fer l´amor encimbellats
en aquesta bastida de paleta.

Jo que faig: -Tot són gustos, tot són gustos,
però el perill deu ser que els rodi el cap.
Hi ha gustos que originen prou disgustos!

-El sexe té, com tot, les seves modes
-declara el pinxo sorneguerament-,
però el negoci em marxa sobre rodes.

De sobte se m´acut, bé que amb desgana,
d´inquirir sobre un punt especial:
-La neteja, en bidet o en palangana?

-Ara us veig, malparit! -brama el macarra-.
Vós sou només un inspector merdós
i heu vingut a esbotzar-me la guitarra!

Com he fet d'altres cops en semblants casos,
amb gest modest i pesarós, cap cot,
callo i li endinyo, en lloc de crits, certs gasos.

. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .

(Aquí vaig abandonar la versió, paralitzat i fastiguejat pels creixents excessos escatològics de l'original.)

Pere Quart


P.s.: Aproveito para agradecer à tão prestativa e simpática ajuda que tive do pessoal da Biblioteca d'Abrera, na pessoa de Yolanda Villalón Serrano, e de Sergi Draper, da Biblioteca Guinardó, ambas bibliotecas de Barcelona, sem cuja pesquisa detetivesca e apoio à distância não teria descoberto a epígrafe e as máscaras não cairiam como flores.

3 de maio de 2007

Lançamento - SEMANA



SEMANA
Antologia de blogueiras organizada por Natércia Pontes.
Participação do blogue Papel de Rascunho.
4 de maio de 2007, 18:30h
Livraria da Vila
Rua Fradique Coutinho, 915

2 de maio de 2007

O Ornabi vai fechar

Freqüentei muito o Sebo Ornabi na época de faculdade. Ainda que os preços de lá fossem proibitivos para mim e apesar de nunca ter apreciado a prática de darem o preço conforme a cara do freguês, eu não tinha como fugir do atrativo de salas empoeiradas e abarrotadas de livros e da mesinha posta como se aguardasse o Fernando Pessoa voltar do banheiro.

Freqüentei muito e comprei pouco, é fato. Mas agora, que o Ornabi é quase página virada, fica a impressão de que posso ter freqüentado pouco e que posso comprar ainda um pouquinho mais. O Seu Luiz, português dono do Ornabi, promete liquidar tudo até o fim de maio, com descontos progressivos até acabar o estoque. Vou lá este sábado, que fica aberta até às 13h. Trarei fotos para o Medianeiro.

Para mais informações, aqui as notícias de OESP, CARTA CAPITAL e FOLHA sobre o fechamento do Ornabi.