20 de junho de 2007

Outubro - Juan Ramón Jiménez

Um poema do poeta espanhol Juan Ramón Jiménez (1881-1958), que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 1953 em Porto Rico, onde se refugiou da Guerra Civil Espanhola.


Outubro

Prostrado estava eu na terra, frente
aos infinitos campos de Castela,
que o outono envolvia na amarela
doçura de seu claro sol poente.

Tão lento, o arado paralelamente
abria a gleba escura, e a singela
mão aberta deixava o grão naquela,
em sua entranha exposta honradamente.

Pensei tirar meu coração, jogá-lo,
pleno de seu sentir alto e profundo,
no largo sulco do terreno terno,

para ver se ao rompê-lo e ao semeá-lo
a primavera mostraria ao mundo
a árvore pura do amor eterno.

(trad. Fábio Aristimunho)


O original:

Octubre

Estaba echado yo en la tierra, enfrente
del infinito campo de Castilla,
que el otoño envolvía en la amarilla
dulzura de su claro sol poniente.

Lento, el arado, paralelamente
abría el haza oscura, y la sencilla
mano abierta dejaba la semilla
en su entraña partida honradamente.

Pensé arrancarme el corazón, y echarlo,
pleno de su sentir alto y profundo,
al ancho surco del terruño tierno;

a ver si con romperlo y con sembrarlo,
la primavera le mostraba al mundo
el árbol puro del amor eterno.

(Juan Ramón Jiménez)



14 de junho de 2007

Lançamento: 12 poetas catalães

FLAP! 2007 - programa e informações

FLAP 2007: CONTAMINAÇÕES


Blogue: http://flap2007.zip.net/

Contato: flap@projetoidentidade.org ou imprensa@projetoidentidade.org

Vídeos:
aqui


São Paulo:
- 29 de junho. Casa das Rosas (Av. Paulista, n° 37)
- 30 de junho e 1º de julho. Espaço dos Satyros I (Pça. Roosevelt, nº 214)

Rio de Janeiro:
- 4 e 5 de agosto de 2007 (programação em breve)

Realização: Projeto Identidade

Apoio: O Casulo, Casa das Rosas, Os Satyros & Sebo do Bac


PROPOSTA

Realizada pela primeira vez em 2005, a FLAP! chega à sua 3ª edição. Desde sua concepção, a FLAP! propõe-se a encarar sem reverencialismo a obra literária e seu processo de criação, evitando que a reunião dos membros das mesas se transforme em motivo de espetáculo por receber "celebridades culturais". O evento é gratuito e aberto ao público em geral.

Percorrerá a FLAP! 2007 o tema Contaminações. A idéia é debater as mais variadas fontes de contaminação da literatura hoje. Serão abordadas formas artísticas cujo desenvolvimento está diretamente relacionado com a produção literária atual, mas que, ou são diminuídas como se fossem artes inferiores, ou não têm sua relação com a literatura colocada em destaque. Por Contaminações também será discutida a relação da literatura brasileira com a literatura dos demais países da América Latina. Com a integração na ordem do dia, é preciso entender a complexidade dos muros que dividem o Brasil de seus vizinhos para compreender - e, por que não?, estimular - essa tão nebulosa influência recíproca.

A FLAP! 2007 começará em São Paulo no dia 29 de junho, com uma leitura de poesia contemporânea na Casa das Rosas (Av. Paulista, n° 37). O evento prossegue com debates nos dias 30 de junho e 1º de julho no Espaço dos Satyros I (Pça. Roosevelt, n° 214). Haverá também feira de livros na Pça. Roosevelt durante o final de semana.

No Rio de Janeiro ocorrerá nos dias 4 e 5 de agosto, maiores detalhes em breve.

Assista vídeos sobre a proposta da FLAP!, sobre seu começo e outros no Canal da FLAP no Youtube:
www.youtube.com/flap2007


PROGRAMAÇÃO - São Paulo
sujeita a modificações

Sexta-feira, 29 de junho

Aberto para Balanço: Leitura de Poesia Contemporânea


Casa das Rosas (Av. Paulista, nº 37)
Formato: cada poeta lerá poemas de sua autoria e homenageará outros poetas.

19h: Apresentação: Frederico Barbosa
Abertura: Eduardo Lacerda e Thiago Ponce, Projeto Identidade

Alfredo Fressia (Contador Borges e Fábio Aristimunho Vargas)
Antônio Vicente Pietroforte (Del Candeias e Delmo Montenegro)
Bruna Beber (a confirmar)
Cláudio Daniel (Eduardo Jorge e Adriana Zapparoli)
Cláudio Willer (lê amigos)
Dirceu Villa (Ana Rüsche e Ricardo Domeneck)
Fabiano Calixto (Benjamin Prado)
Horácio Costa (César Vallejo e Xavier Villaurrutia)

21h - Intervalo
Lilian Aquino (Andréa Catropa e Heitor Ferraz)
Maiara Gouveia (Cláudia Roquette-Pinto e Rodrigo Petrônio)
Mavot, Cooperifa (Eduardo Lacerda e Sérgio Vaz)
Paulo Ferraz (Donizete Galvão e Fábio Weintraub)
Pedro Tostes (Maloqueiristas: Berimba de Jesus e Caco Pontes)
Ronald Polito (Carlos de Oliveira e Júlio Castañon Guimarães)
Ruy Proença (Antônio Moura, Eucanaã Ferraz e Rubens Rodrigues Torres Filho)
Sérgio Mello (Augusto Silva e Luana Vignon)

Sábado, dia 30 de junho
Espaço dos Satyros I, Pça. Roosevelt, nº 214

[1] 10h às 11:30h - Abre-alas: Contaminações
Mediação: Andréa Catropa, poeta
- Antonio Vicente Pietroforte, escritor e Prof. Dr. Depto. Lingüística, FFLCH-USP
- Glauco Mattoso, poeta
- Anselmo Luis, o Bactéria
- Marcelino Freire, escritor

[2] 13h às 14:30h - Turma do Fundão: A Literatura na Sala de Aula
Mediação: Ivan Antunes, poeta
- Maria Elisa Cevasco, Profa. Dr. Depto. Letras Modernas, FFLCH-USP
- Rodrigo Ciríaco, escritor e educador
- Eduardo Araújo Teixeira, professor da rede pública (a confirmar)
- Adilson Miguel, editor de literatura juvenil
- Eduardo Lacerda, editor de O Casulo - Jornal de Poesia Contemporânea

[3] 14:30h às 17h - E quem vive disso?
Mediação: Ana Paula Ferraz, jornalista e escritora
- Marcelo Siqueira Ridenti, Prof. Titular de Ciência Política, UNICAMP
- Santiago Nazarian, escritor
- Maria Luíza Mendes Furia, poeta
- Andrea Del Fuego, escritora
- Juliano Pessanha, escritor

Domingo, dia 1º de julho
Espaço dos Satyros I, Pça. Roosevelt, nº 214

[4] 12h às 13:30h - O Além Livro
Mediação: Del Candeias, poeta
- Alberto Guzik, crítico, escritor e dramaturgo
- Lourenço Mutarelli, escritor e cartunista
- Mario Bortolotto, escritor e dramaturgo
- Eduardo Rodrigues, escritor e roterista de quadrinhos

[5] 14:30h às 16h - Influenza: Soy loco por ti América
Mediação: Fabio Aristimunho Vargas
- Vanderley Mendonça, editora Amauta
- Horacio Costa, poeta e Prof. Dr. Depto. Letras Clássicas
- Maria Alzira Brum, tradutora e escritora (a confirmar)
- Alfredo Fréssia, poeta e tradutor
- Joca Terron, escritor

16h - Encerramento
Leitura de Marcelo Mirisola
Divulgação do vencedor do Concurso Sigla FLAP! 2007

OUTRAS INFORMAÇÕES

Inscrições: Para participar da FLAP! não é preciso realizar inscrições prévias, respeitaremos a ordem de chegada do público.
Certificados: quem precisar de certificados deverá preencher ficha de cadastro na abertura dos debates (sábado, 10h). Os certificados serão entregues no encerramento do evento (domingo, 16h). Dúvidas? Escreva para
flap@projetoidentidade.org.





CONCURSO DA SIGLA FLAP!: O que significa "F.L.A.P.?". Deixe sua sugestão com os organizadores durante o evento! No domingo, a melhor sigla será premiada!


12 de junho de 2007

Ver e ouvir estrelas...

O Clube de Astronomia de São Paulo (CASP) realizará nesta quarta-feira “Ver e Ouvir Estrelas”, um evento de caráter astronômico e literário na Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura.

Haverá exposição de trabalhos de astrofotógrafos brasileiros (Fábio Carvalho, José Carlos Diniz, Marco De Bellis), leitura de poemas com temática relativa à astronomia (com a presença dos poetas Alberto Martins, Andréa Catrópa, Annita Costa Malufe, Eduardo Lacerda, Fábio Aristimunho, Flávia Rocha, Frederico Barbosa, Renan Nuernberger e Victor Del Franco), palestra sobre astrofotografia com o Prof. Dr. Roberto Costa (Universidade de São Paulo), além de observação do céu com telescópios. Mais informações podem ser obtidas pelo endereço eletrônico astrocasp@uol.com.br.

Convite - imagem - em arquivo anexado a esta mensagem.

Ver e ouvir estrelas
Exposição de astrofotografias, leitura de poemas, palestra e observação do céu
Data: 13/06 (quarta-feira)
Horário: das 19h às 22h30
Local: Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura - Avenida Paulista, 37 – Metrô Brigadeiro
Entrada franca
Realização: CASP – Clube de Astronomia de São Paulo - http://www.astrocasp.com.br


9 de junho de 2007

De novo nada / Evidências pedestres



O poeta Paulo Ferraz, autor de Constatação do óbvio (Selo Sebastião Grifo, 1999), está lançando dois livros numa tacada só: De novo nada, uma pequena odisséia urbana e fragmentária em 500 versos, e Evidências pedestres, coletânea dos poemas produzidos pelo autor desde seu primeiro livro.

O lançamento será dia 11 de junho, na Feira Moderna, Vila Madalena, e além de ser um dos mais aguardados dos últimos anos promete ser um dos mais relembrados nos próximos! A conferir.

Lançamento do Paulo Ferraz
Evidências Pedestres e De Novo Nada.
11 de junho, 19h, Feira Moderna
R. Fradique Coutinho, n° 1246.
http://denovonada.zip.net

8 de junho de 2007

A um trabalhador assassinado

Tradução do poeta basco Lauaxeta, pseudônimo de Esteban Urkiaga (1905-1937), que assim como Lorca foi fuzilado na Guerra Civil.

A um trabalhador assassinado

..................I

...Minas vermelhas da minha Viscaia,
ferida aberta na montanha verde!
Ó mineiro do rosto tão moreno,
carrega no ombro tua picareta.
Tua afiada picareta no ombro
ao sol vai reluzindo, morro abaixo.
Vem na trilha – a manhã em tuas costas –
até a fábrica do céu cizento.
Há rumores de greve pelas ruas
– punhos cerrados, macacões azuis –.
De sua parte, os patrões, sempre indolentes,
contam com tua ajuda, ó telefone.
Ó mineiro do rosto tão moreno,
correm telefonemas pelos fios.
Como reluzem tantas capas negras
da guarda civil vindo pela trilha!
E como se parelham a bandidos
com seus longos fuzis trazidos no ombro!
Minas vermelhas da minha Viscaia,
ferida aberta na montanha verde!

..................II

...Morro abaixo vai, entre quatro guardas,
o mineiro do rosto tão moreno.
Seus olhos negros são como punhais,
mas que não podem irromper o cerco.
Para onde carregam algemado
esse teu corpo forte cor de ferro?
Se tivesses coragem, molharias
a picareta em sangue inimigo.
Às margens do Nervião – tremor de trilhos –,
quanto esforço, querendo libertar-se!
Mas os seu grito não se pode ouvir
devido ao ruído enérgico das fábricas!
Os longos fuzis ficam fumegantes
– há rumores de greve pelas ruas –.
Ó mineiro do rosto tão moreno,
há de banhar-te no teu próprio sangue!
Na casa Gómez beberão os guardas
civis, depois de tudo, o melhor vinho.
Minas vermelhas da minha Viscaia,
ferida aberta na montanha verde!


..................1931


O original:

Langille eraildu bati

..................I

...¡Ene Bizkai'ko miatze gorri
zauri zarae mendi ezian!
Aurpegi balzdun miatzarijoi
ator pikotxa lepo-ganian.
Lepo-ganian pikotx zorrotza
eguzki-diz-diz ta mendiz bera.
Ator bideskaz, —goxa sorbaldan—,
kezko zeruba yaukon olera.
Opor-otsa dok txaide zabalan,
—ukabil sendo, soñanzki urdin—.
Jaubiak, barriz, nasai etzunda,
laguntzat auke, i, urrutizkin.
Aurpegi balzdun miatzarijoi
ari bittartez deyak yabiltzak.
¡Bideskan zelan dirdir-yagijek
txapel-okerren kapela baltzak!
¡Orreik yaukoen gaizkin-itxura
sispa luziak lepo-ganian!
¡Ene Bizkai'ko miatze gorri,
zauri zarae mendi ezian!

..................II

...Mendiz bera lau txapel-okerrez
aurpegi balzdun miatzarija.
Begi baltz orreik sastakai dozak
baña zatittu ezin esija.
¿Noruntz aroe esku-lotuta
burni margodun gorputz gogorroi?
¡Sendua ba'intz, etsai-odolez
bustiko eunkek pikotx zorrotzoi!
¡Nerbion-ertzok, —tranbi-dardara—,
azkatu-nayez, zenbat alegin!
Baña olaen zarata-artian
aren ayotsik adittu-ezin!
Sispa luziak sutan yagozak,
—opor-zaratak txaide zabalan—.
¡Aurpegi balzdun miatzarijoi
igeri adi eure odolan...!
Txapel-okerrak edango yabek
ardao onena Gomez-etxian.
¡Ene Bizkai'ko miatze gorri,
zauri zarae mendi ezian!

..................1931



4 de junho de 2007

Recriação do galego-português

Apresento uma recriação de um poema do trovadorismo galego-português, de um poeta galego do fim séc. XIII e começo do XIV, Joam de Cangas. Ainda não sei em que medida é válida uma “recriação” ou “tradução” de um texto galego-português. A praxe das edições modernas é publicar poemas da época acompanhados de notas, e não de tradução, por mais ininteligíveis que sejam. Algumas passagens são tão constrangedoramente transparentes que traduzi-las se resumiria a atualizar a ortografia, a exemplo do que se faz atualmente em textos portugueses no Brasil e vice-versa, mas em muitos momentos o texto galego-português se mostra inacessível ao leitor moderno. Enfim, se alguém tiver uma opinião ou sugestão a respeito, será muito bem-vinda.


Eu fui, mãe, a São Mamede, onde cuidei
que vísseis meu amigo, que lá não foi,
e ao sair, tão formosa que até me dói,
eu me disse, como agora vos direi:
pois se não vem, sei muito bem:
por mim se perdeu, que nunca lhe fiz bem.

Quando eu a São Mamede fui e não vi
meu amigo, com quem queria falar,
com muito fervor, nas ribeiras do mar,
suspirei no coração e concluí:
pois se não vem, sei muito bem:
por mim se perdeu, que nunca lhe fiz bem.

Depois que fiz na igreja minha oração
e não vi o que me queria tão bem,
ao pesar que me abateu o seu desdém
eu logo disse assim, em conclusão:
pois se não vem, sei muito bem:
por mim se perdeu, que nunca lhe fiz bem.

(Recriação: Fábio Aristimunho)


O original:

Fui eu, madr’, a San Momed’u me cuidei
que veess’o meu amigo, e non foi i,
por mui fremosa que triste m’en partí,
e dix’eu como vos agora direi:
pois i non ven, sei unha ren:
por mi se perdeu, que nunca lhi fiz ben.

Quand’eu a San Momede fui e non vi
meu amigo, con que quisera falar
a mui gran sabor, nas ribeiras do mar,
sospirei no coraçón e dix’assí:
pois i non ven, sei unha ren:
por mi se perdeu, que nunca lhi fiz ben.

Depois que fiz na ermida oraçón
e non vi o que mi quería gran ben,
con gran pesar filhóuxime gran tristén
e dix’eu log’assí esta razón:
pois i non ven, sei unha ren:
por mi se perdeu, que nunca lhi fiz ben.

(Joam de Cangas)